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A Guerra de SecessãoAntônio
Carlos
Prestes Rodrigues
acrodrigues@pucrs.br 3º Ano - História - Fac. La Salle - Canoas (RS) |
O
presente artigo tem por objetivo analisar os
aspectos históricos relativos ao conflito entre os Estados Confederados
e os
Estados que formavam a União dos Estados Unidos da América sem o
intuito de
tratar os por menores do conflito, mas de mostrar uma visão de cunho
geral
abordando alguns elementos essenciais do conflito que desencadeará no
surgimento de uma grande nação.
A Segunda guerra de
independência
(1812 – 1814), provocada pela ambição norte-americana no Canadá e pelo
bloqueio
inglês ao comércio dos Estados Unidos com a França napoleônica,
terminou com a
derrota inglesa e, ao mesmo tempo, deu impulso à industrialização no
norte
devido à interrupção do fornecimento inglês. Com o restabelecimento da
paz, o
Congresso, sob pressão dos fabricantes, acentuou o protecionismo
adotando
tarifas aduaneiras elevadas. A vitória reafirmou também a unidade
nacional, o
nacionalismo contra a velha Europa.
Paralelamente à
industrialização,
mais concentrada no Norte, ocorreu a expansão para o Oeste e a ascensão
dos
democratas com Jackson. Esses três fatores relacionavam–se com
crescente
fermentação nacionalista que, criou a idéia de superioridade dos
Estados
Unidos, atribuindo-lhe a missão de civilizar o mundo.
“O avanço do
Capitalismo nos Estados
Unidos foi, entretanto, problemático, pois nem todos os Estados da
Federação
caminhavam na mesma direção”[1]
Os Estados do Sul
permaneciam
escravistas, e o ângulo pelo qual enxergavam a política
interna e externa era diferente daqueles dos
Estados do Norte.
Em
meados do século XIX, o nome estados Unidos não correspondia, nem de
longe, à
realidade do país. Os estados do Sul e do Norte tinham diferentes modos
de
pensar e produzir. No Sul a economia baseava-se na monocultura
algodoeira,
produzida pela mão-de-obra escrava; a exportação do algodão
representava mais
da metade do valor das exportações norte-americanas, além de ser a
principal
fonte de matérias-primas para os fabricantes de tecidos do Norte. Por
outro
lado, os estados do Norte aceleravam o desenvolvimento abril, voltado
principalmente para produção têxtil. As fábricas se multiplicavam e com
elas
crescia a burguesia industrial capitalista.
No
plano político, os nortistas lutavam pelo fortalecimento do poder
central,
protetor da produção interna, e os sulistas sustentavam a autonomia dos
estados
a fim de preservarem a escravidão.
Apesar da grave oposição, os estados livres[2]
e
os Estados escravistas mantinham uma convivência cordial[3].
Porém a expansão para o Oeste gerou o desequilíbrio que, cada vez mais
acentuado, preparou a ruptura, isto é, a guerra civil.
Por
volta de
Os
Estados do sul refletiam a mentalidade e os ideais deixados pela
colonização de
exploração caracterizada pelo sistema de plantation[4].
Nestes
locais, se formou uma aristocracia rural cujos interesses econômicos
eram
fornecer produtos agrícolas para o mercado externo, manter o
livre-comércio e a
escravidão. Os sulistas, então, defendiam o livre-cambismo e se opunham
ao
protecionismo alfandegário reivindicado pela burguesia nortista. De
fato, os
capitalistas do Norte consideravam que suas indústrias só prosperariam
mediante
tarifas alfandegárias protecionistas que afastassem a concorrência
européias e
garantissem o consumo do mercado interno em expansão.
Os
grandes proprietários de terra tinham o intuito de garantir o aspecto
da
produção e o abastecimento da matéria-prima para a Inglaterra –
especialmente o
algodão, na perspectiva do livre-cambismo na aquisição de produtos
importados.
Na verdade o sul não queria que os seus negócios com a Inglaterra fosse
prejudicado. Neste pensamento surge o Partido Democrata que defendia a
autonomia dos Estados.
As
divergências não paravam por aí: “a população do Norte reclamava a
imediata
distribuição das novas terras do Oeste entre pequenos proprietários,
enquanto a
do Sul achava que o patrimônio territorial do país deveria ser vendido a bom preço”[5]
Outra
situação que antecede o conflito é o fato de que os nortistas defendiam
um
forte sistema bancário nacional, e os sulistas combatiam a criação de
um banco
central Além do mais, os capitalistas do Norte, interessados em manter
negócios
com os agricultores do Oeste, vendendo-lhes artigos industrializados e
comprando-lhes produtos agrícolas, defendiam suas reivindicações
no sentido de que a União
promovesse a construção de canais e estadas de ferro liando o Oeste ao
Leste, o
que era contestado pelos proprietários do Sul, que, não mantendo
relações comerciais
com o Oeste, recusavam-se a autorizar a aplicação de verbas federais
para
aquele fim.
Em
1850,
o Compromisso de Missouri entra
A
crise
definitiva do Compromisso de Missouri aconteceu em 1854, com o projeto
da lei
Kansas-Nebraska, de autoria do senador Douglas de Ilhinóis. Douglas
propunha a
Organização de Kansas e Nebraska como
territórios com liberdade de escolha, mediante decisão popular, entre
ser ou
não estado escravista. E, como estimulo a ocupação, Douglas sugeriu que
a
ferrovia, ainda em projeto de construção, cortasse os dois territórios.
O
Congresso aprovou as proposições, anulando o Compromisso de Missouri. O
confronto entre os estados livres e estados escravistas tornou-se então
aberto
e declarado.
Temos
que levar em consideração que:
“O Norte constituía-se de uma burguesia
voltada para o mercado interno, isto é, para o desenvolvimento agrícola
e
industrial. Por isso, o crescimento populacional e o fim da escravidão,
com o
conseqüente estabelecimento da mão de obra livre e assalariada,
constituíam uma
possibilidade de ampliar o consumo de seus produtos. Eram totalmente
contrários
a política de importação. Neste intuito surge as bases do Partido
Republicano”[6]
Na
verdade, a questão do escravismo passa como pano de fundo. O mencionado
acima
deixa em evidência que a abolição da escravatura para o Norte
representaria uma ampliação do mercado consumidor interno e que o Sul
defendia
a escravidão porque o seu sistema econômico se debruçava na mão-de-obra
escrava.
Aqui
cabe esclarecer alguns aspectos sobre a escravidão como questão
política e a
escravidão como questão econômica:
a)A
escravidão como questão política: a
linha imaginária do compromisso de Missouri foi abolida, e a secessão
dos
estados parecia agora eminente. Os sulistas pressionam com a ameaça de
separação, que estavam dispostos a cumprir. O partido republicano
passou a
questionar a existência da escravidão nos novos territórios do Oeste
impedindo
a expansão do Sul escravista. Somente no decorrer dos conflitos sua
posição
tendeu ao abolicionismo. O norte sustentava a idéia de que era dever do
Congresso proibir a escravidão por toda a parte onde se estendia sua
jurisdição; para os nortistas, a liberdade era nacional e a escravidão,
regional.
b)A
escravidão como questão econômica: o interesse maior, entretanto,
parecia
ligar-se à questão econômica. O mercado sulista estava limitado pela
existência
da maioria escrava, que, por essência da
condição, não consumia. O sul era a favor do livre cambismo e o norte
defendia
o protecionismo.
Começa
a entrar em ação os movimentos humanitários ligados a teoria
socialistas românticos
e dos metodistas, movimentos com idéias liberais. Tudo isso servia para
condenar o sul escravistas.
O sul
se defendia bravamente. Isto se verifica bem no discurso do senador
Hammond, da
Carolina do Sul:
"Em todos os sistemas sociais, é preciso
haver uma classe
para desempenhar as tarefas indignas, para fazer o que é monótono e
desagradável [...]nós a chamamos de
escravos [...] não chamarei a classe existente no Norte usando estes
termos
[...] A diferença, entre nós, é que os escravos são contratados pela
vida toda,
e são bem recompensados; não há fome, nem mendicância, nem desemprego
entre
nós, e nem excesso de empregos, também. Os de vocês são empregados por
diárias,
não são bem tratados, e têm escassa recompensa, o que pode ser provado,
e maneira
mais deplorável, a qualquer hora, em qualquer ruas de suas cidades.
Ora, pois a
gente encontrava mais mendigos em um dia, em uma só rua de Nova Iorque,
do que
os que se encontram durante toda uma vida no Sul inteiro" ( 1996, p. 164)
O
conflito agravou-se entre o Sul escravista e o Norte Liberal quando
Abraham
Lincoln – Republicano e Nortista – foi eleito Presidente dos Estados
Unidos,
derrotando o candidato sulista John Breckinrifge. O conflito teve maior
grandiosidade em cima de duas das inúmeras normas elaboradas pelo
presidente
vitorioso: a)o fim da escravidão; b)a lei do protecionismo.
Com a
vitória de Lincoln, a Carolina do Sul, seguida depois de mais dez
outros
estados escravistas, declarou que não mais fazia parte dos Estados
Unidos
(dezembro de 1860). Os representantes dos estados que se separaram
reuniram-se
e formaram os Estados Confederados da América, escolhendo como
presidente
Jefferson Davis (1861).
Os
Estados Confederados da América eram: Texas, Luisiana, Arkansas,
Mississipi,
Alabama, Tennesse, Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte,
Virgínia e
Florida. Somando um total de onze estados.
Os Estados da União eram compostos pelos
seguintes Estados: Oregon, Califórnia, Área Indígena, Kansas, Wiscosin,
Michigan, Missúri, Ilhinóis, Indiana, Kentucky, Ohio, Virgínia
Ocidental,
Pensilvania, Massachusetts, Nova Iorque, Vermont, New Hampshire e
Maine.
Somando um total de 18 estados.
A
guerra estava armada. Teve o seu inicio derradeiro com um ataque dos
Confederados ao Forte Sumter, em abril de 1861 e se estendeu até 1865.
Foi
considerada como a primeira das grandes guerras modernas.
Durante
quatro longos anos a luta continuou, com enormes perdas de vidas de
ambos os
lados (620.000). Primeiro ambos os lados recrutavam voluntários; depois
eram
convocados para o Exército. Isso causou profundo ressentimento, tanto
no Norte
como no Sul. Tanto em um como em outro era permitido pagar substitutos
para
prestar o serviço militar. No sul havia muitas brechas nas leis de
convocação,
através das quais escapavam os proprietários de grandes plantações, ou
os que
possuíam mais de 15 escravos (isto quando a guerra tinha sido provocada
por
eles mesmos). No Norte, um indivíduo convocado podia ser isento da
convocação
se pagasse ao governo 300 dólares. Não admira que muitas pessoas pobres
se
referissem à guerra como "a guerra dos ricos na qual lutam os pobres".
Na
verdade, o que coloca em choque o norte industrial do sul agrícola é
uma
divergência mais de ordem econômica – primeiro, como cito acima, é o
protecionismo e o segundo gira em torno da liberdade do comércio.[7] Não é, portanto, a questão do
escravismo que pode explicar a origem das hostilidades e de um conflito
que
resultará na morte de mais de seis mil americanos.
“A
questão das tarifas alfandegárias é um aspecto muito significativo a
ser
analisado. Enquanto o norte ansiava por tarifas alfandegárias, para
proteger
suas indústrias da concorrência britânica, o sul, grande produtor de
algodão,
temia que os seus negócios com os mesmos britânicos fossem
prejudicados.”[8]
A
vitória do norte foi consolidada com a tomada da capital sulista de
Richmond e
a derrota de Appomattox, o general confederado Robert Lee rendeu-se ao
general
Grant, do Norte, encerrando a guerra civil. Apesar das diversas
derrotas dos
exércitos da União, devido à incapacidade e à corrupção de seus
comandantes, os
confederados foram vencidos. Podemos assinalar algumas possíveis causas
desta
derrota:
a)o
número de habitantes do Norte era maior, e se ampliava pelas constantes
levas
de imigrantes europeus;
b)o
Norte possuía desenvolvimento industrial, o que facilitava
a fabricação de armas, munições, roupas e
outros equipamentos militares;
c)a
rápida expansão das vias férreas do Norte, que dava maior mobilidade
aos
exércitos; e
d)o
bloqueio da costa do Sul, proclamado por Lincoln, que impedia a
exportação de
algodão para a Europa e a importação de roupas, munições e equipamentos
que os
confederados necessitavam.
Foi
instalado o sistema capitalista nos Estados Unidos e os negros ganharam
a
liberdade. “Chegou o momento em que
percebi que a escravidão devia morrer para que a nação pudesse viver”[9]
Mas
não
aconteceram políticas sociais que integrassem os ex-escravos ao mercado
de
trabalho. Os negros estavam livres e enfrentavam na pele o preconceito
racial. A
opinião pública oscilava entre os que defendiam a liberdade e a
dignidade e
humana, e os partidários da segregação racial. Neste contexto surge a
Ku Klux
Klan, fundada em 1867 e começam a fazer atentados anônimos contra os
negros com
o intuito de impedi-los de exercer seus direitos como cidadãos.
Enfim,
surge uma poderosa nação. Os soldados federais lançavam gritos de
vitória e o
general imediatamente os interrompeu: Sem vivas! Os rebeldes
tornaram-se nossos
compatriotas e os Estados Sulistas foram
reintegrados a união, tiveram que reconhecer a abolição da escravidão –
definitivamente fixada pela Emenda XIII à Constituição – e o direito de
voto
aos negros tornados cidadãos (Ementa XV). Economicamente o Sul foi mais
afetado
do que o Norte, muitas de suas plantações haviam sido arrasadas, outras
foram
confiscadas, havia falta de mão-de-obra, pois muitos negros emancipados
fugiram, sem contar que o Sul desvinculou-se da Inglaterra e se viu na
contingência de vender seus produtos agrícolas aos capitalistas do
Norte, os
quais se valeram da condição de vencedores para transferir capitais e
indústrias
para os Estados Sulistas. Em contraposição, o desenvolvimento econômico
do
Norte e do Oeste foi considerável: mesmo durante o conflito e apesar da
inflação, as necessidades bélicas incrementaram a industrialização,
possibilitando a formação dos primeiros trustes, ligados aos
Rockfeller,
Carnegie, Morgan.
AQUINO,
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[1] KOSHIBA, Luiz; FRAYZE,
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[2] Eram denominados estados livres todos os
Estados que
faziam parte do eixo Norte
[3] Estabelecida pelo Compromisso de Missouri
que
estabelecia o paralelo de 36°30’
delimitaria os territórios escravistas ao Norte e os livres ao Sul.
(Américas:
uma introdução histórica, p. 139).
[4] PANAZZO, Silva; VAZ, Maria Luísa.
Navegando pela
história: construção das sociedades contemporâneas. P 37
[5] AQUINO, José Oscar. História das
sociedades
americanas. P. 285
[6]PANAZZO, Silvia; VAZ, Maria Luísa.
Navegando pela
história. p 38
[7]KERSAUDY, François. Estados Unidos: o
nascimento de
uma nação. Revista História Viva . p.
28-33
[8]RODRIGUES, Joelza Ester. História em
documento:
imagem e texto. p. 200
[9] Discurso de Abraham Lincoln, em 22 de
julho de 1863.
MORISON, S.E. e COMMAGER, H. S. , História dos Estados Unidos na
América, p. 116